sexta-feira, 8 de julho de 2011

Infâncias infelizes

Não sei se sucede o mesmo aqui com a compincha Macaca, mas Kelle Maria nasceu e cresceu numa aldeia à beira mar plantada. E o que tenho a dizer sobre isto? À luz dos miúdos de hoje, tive uma infância do mais infeliz que pode existir: nunca tive uma playstation ou uma Wii ou uma XBox ou o raio que o parta, só tive telemóvel já me jogava quase para os 18 anos e era daqueles fraquinhos que só dava para fazer chamadas e mandar SMS (um luxo), tinha horas para chegar a casa até para aí aos 20 anos, não falava com os amigos no chat e no Facebook porque não havia, bebia água da mangueira, tomava banho no jardim com a água da mangueira, não tinha um boneco que fazia xixi e cocó e que tinha de meter a dormir porque eu tinha uma cadela de quem devia cuidar e que era real, o brinquedo mais divertido que tive deve ter sido o carrinho de rolamentos que dividia com o meu primo e que nos fazia rir à gargalhada tanto mais quanto maior fosse a queda, ia para a escola de bicicleta e o caminho era todo a subir, não bebia sumos que isso era só quando havia festas de aniversário ou no Natal, não comia gulodices (mãe rígida a minha), os sábados à tarde não eram passados a jogar coisas na televisão mas sim a subir a pinheiros, atravessar riachos e rebolar nos montes de areia branca coleccionando nódoas negras e cicatrizes, tinha de estar em casa antes de escurecer senão sujeitava-me a um valente castigo (e se a minha mãe castigava).
Pronto, isto tudo para dizer que hoje em dia olho para as crianças quase obesas, enfiados em centros comerciais ao sábado à tarde, a comer no McDonalds, a comprar playstations e cenas que tais, com presença constante nos Facebooks da vida e penso "raios, se um dia contasse a minha infância a estes miúdos eles iam achar que eu tinha tido uma infância deveras infeliz"!


Oh Kelle mas tu foste minha vizinha na infância e eu não sabia?
Aqui a Macaca nasceu numa aldeia à beira rio plantada.
Nunca existiram esses bichos de nintendos, xbox ou playstation lá por casa. Tive uma máquina de jogar tetris e era partilhada por toda a família.
Fazia os trabalhos da escola à mão, com uma folha de linhas por baixo de uma folha branca para ver se a coisa saía com uma letra perfeitinha. Telemóvel recebi já o secundário estava a acabar e foi prenda de Natal oferecida por toda a família, que sim fazia chamadas e sms's (coisa que eu não soube enviar durantes largos meses).
Horas para chegar a casa sempre existiram, não só para chegar, mas também para almoçar e jantar que a malta janta toda junta à mesa e o almoço é sempre às 13h e o jantar às 20h para não existirem enganos, exceptuando os dias em que há Liga dos Campeões e aí janta tudo mais cedo.
A água era bebida da mangueira preferencialmente quando acompanhados de banho no quintal e ficávamos logo despachados para a cama.
Existiram carrinhos de rolamentos e bolas de "catchumbo" (era pesadas e eu achava este nome bem apropriado) fruto da convivência com dois primos mais velhos.
O caminho para a escola foi feito a pé ou de bicicleta que a escola era longe e a aldeia só tinha até à 4ªclasse. Kelle ao contrário de ti eu tinha o direito de beber refrigerantes, na noite em que davam os Jogos sem Fronteiras podia comprar uma garrafa de coca-cola e era o delírio.
As brincadeiras foram sempre na rua ao elástico, ao carrola, à cirumba, à macaca e ao festival da canção.
A ordem era regressar quando os candeeiros da rua acendiam e os banhos no rio, de onde saímos negros tal era a quantidade de lama que existia no fundo, era prolongados por três longos e deliciosos meses de férias grandes.
Os lanches eram partilhados, assim como os gelados e os chupas que isto não havia cá doença que entrasse.
Se eu poderia ter tido uma infância mais feliz? Sim, se tivesse durado mais anos :)

Fonte da imagem: weheartit

3 comentários:

  1. Eu acho que é que os miúdos de agora tem tralhas demais, mimos demais e por isso mesmo não valorizam nada! Dão tudo por adquirido, mesmo que os pais tenham de fazer sacrifícios para lhes darem as porcarias das marcas que o fulano e o sicrano também têm. E depois enquanto adultos tornam-se execráveis, com aquela mania irritante que são os donos da razão, continuando a achar que tudo podem!!
    Eu não fiz tudo o que tu fizeste, mas também passava a vida fora de casa, e acho que o 1º macdonalds que comi já devia ser teenager! Já para não falar no telemóvel, que foi um a dividir por mim e pela minha irmã, já andávamos na secundária!
    Gostei de ler esta tua infância:)
    Beijos*

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  2. Macaca, crescer nos anos 80 e 90 foi um privilégio de que me posso orgulhar!!
    Deixa-me dizer-te que ainda hoje em casa dos pais se almoça às 13h e se janta às 20h, e não há cá manias de comer mais tarde ou de comer no sofá, mãe nunca permitiu tal coisa!
    Depois das brincadeiras de sábado a água na banheira (ou no terraço) corria preta e os 3 meses de férias eram efectivamente aproveitados!

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  3. Lá em casa as refeições continuam com horas marcadas que não há tabuleiro que entre lá por casa. E a ver o telejornal que a malta tem de estar informada. Ao Domingo víamos a F1 quando dava no canal 1.
    Oh vida feliz

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